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Soros antiofídicos
Em julho de 2020, Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul, um estudante de veterinária de 22 anos, foi picado por uma naja. Nativa da África e da Ásia, a naja é considerada uma das espécies mais venenosas do mundo. O jovem, morador do Distrito Federal, foi levado para um hospital que solicitou o antídoto para picada ao Instituto Butantan, em São Paulo. O Instituto Butantan é o único local no Brasil que possui o soro, unicamente para medidas de segurança, já que o animal em questão não faz parte da fauna brasileira.
De acordo com a Polícia Civil, Pedro Henrique criava a cobra ilegalmente, junto a outras 18 serpentes exóticas, sem autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O jovem chegou a ficar em coma, mas recebeu alta no dia 13 de julho, após ter recebido tratamento com o soro antiofídico. A soroterapia antipeçonhenta foi descoberta em 1894 pelos franceses Albert Calmett, Auguste Césaire Phisalix e Gabriel Bertrand, que apresentaram suas descobertas em uma reunião da Sociedade de Biologia da França. Na ocasião, fizeram os testes, justamente, contra a picada de cobra naja, com ótimos resultados.
O pesquisador brasileiro Vital Brazil aprimorou a pesquisa francesa, ao descobrir que o soro da cobra naja não funcionava em outras picadas de cobras e desenvolveu novas possibilidades científicas. Em 1898, Vital Brazil confirmou que a eficácia dos soros antipeçonhentos estava relacionada à especificidade do veneno utilizado na produção do antídoto e, consequentemente, ao gênero das serpentes.
O que são soros?
Os soros são imunizadores que atuam em nosso sistema imune e evitam que antígenos nos causem danos. Eles são usados em casos em que há necessidade de tratamento rápido, onde não é possível esperar a produção de anticorpos pelo nosso corpo. Por serem fabricados a partir de organismos vivos são considerados imunobiológicos, assim como as vacinas. Porém, diferente das vacinas que estimulam a fabricação de anticorpos e produzem células de memória, o soro não é capaz de prevenir doenças, mas atuam diretamente na cura. O soro é composto por anticorpos, sendo considerado assim um imunizante passivo.
Como são produzidos?
Na produção do soro é preciso a utilização de outro animal, na maioria das vezes usa-se um cavalo. Primeiro, inocula-se no animal o antígeno, em doses controladas, para o qual se deseja produzir o soro. Passados alguns dias, depois de produzidos os anticorpos, parte do sangue do animal é retirada e o plasma separado para a análise de controle de qualidade. As hemácias, leucócitos e plaquetas retiradas são colocadas novamente no animal de origem.
Os soros mais conhecidos são os antiofídicos, usados para o tratamento de picadas de cobras. Mas, algumas doenças como tétano, botulismo e raiva, podem ser tratadas por meio de soros. Além disso, os soros também são usados em alguns casos na prevenção a rejeição de órgãos transplantados. É importante dizer, que ao contrário das vacinas, os soros não garantem proteção prolongada. Isso porque ao administrar um soro, é injetado anticorpos prontos e, portanto, não há a fabricação de células de memória.